Novo estudo aponta que o comércio ilícito de bebidas alcoólicas destiladas aumentou em 9,7% na América Latina durante a pandemia

  • Estima-se que o mercado ilegal de bebidas alcoólicas até o final de 2020 será de quase 750 milhões de garrafas de 1 litro.
  • Todos os países avaliados apresentaram crescimento consistente em atividades ilícitas. O estudo estima que, se houver uma lenta recuperação econômica, essas atividades criminosas tendem a aumentar.
  • As restrições de acesso aos canais formais de venda impostas pelos governos foram aproveitadas por aqueles que produzem e vendem bebidas ilegais.

17 de novembro de 2020 – Euromonitor International, líder em pesquisa estratégica de mercado, lançou o primeiro estudo sobre o comércio ilícito de bebidas alcoólicas na América Latina e no Caribe após o impacto da COVID-19. As conclusões mostraram um aumento da atividade ilícita em todos os países analisados, representando 298.700.000 litros de álcool puro até o final de 2020 em toda a região.

O estudo, realizado no Brasil, Colômbia, México, Panamá, Peru e República Dominicana, destaca que indicadores como o PIB, renda e emprego aliados a restrições de acesso às vendas nos canais formais geram mudanças nos cenários desenvolvidos. No entanto, o mercado de bebidas alcoólicas ilícitas está crescendo em todos os casos, mesmo nos cenários mais otimistas e estima-se que, se houver uma recuperação econômica lenta, a probabilidade de aumento dessa atividade criminosa incrementaria.

A Colômbia é o país com o maior percentual de crescimento da atividade ilícita com 10,6% em relação aos níveis de 2019, seguida pelo Brasil, com um aumento de 10,1%, México, com 9,8%, e República Dominicana, com 9,4%. O Peru e o Panamá também foram vítimas desse crescimento, com 6,5% e 6,4%, respectivamente.

O estudo identificou os principais propulsores da atividade ilícita na América Latina e no Caribe:

  • O impacto da pandemia aumentou a instabilidade devido à desigualdade de renda e perda de empregos, que afetou tanto o poder aquisitivo quanto as intenções de compra e levou os consumidores a buscarem produtos de menor custo, portanto, abrindo oportunidades para fornecedores de álcool ilícito. Os indivíduos criminosos aproveitaram esse impacto para desenvolver novas estratégias e oferecer produtos ilícitos que parecem originais, enganando os consumidores que procuram manter seu estilo de vida a um custo menor.
  • O acesso reduzido a bebidas legalizadas durante a COVID-19, causado por medidas tomadas para conter a pandemia, como proibições, restrições à venda e fechamento de lojas, também impulsionou uma mudança no comportamento dos consumidores.
  • Os indivíduos criminosos aproveitaram a proliferação de novos canais de distribuição que disparou devido à pandemia, como as pequenas lojas, e-commerce e aplicativos de entrega. Dentro desses novos canais, plataformas ilegais foram criadas para vender produtos ilícitos e realizar transações fraudulentas. Nesta nova realidade, bares e discotecas deixaram de ser o único canal para a proliferação do mercado ilícito.
  • Uma capacidade reduzida das autoridades em vigiar a aplicação da lei no setor e o aumento da importação de matéria-prima, como o etanol, promoveram práticas informais em toda a cadeia produtiva, onde gangues de criminosos aproveitaram para abastecer as cadeias de falsificação. As zonas francas podem desempenhar, dependendo do país, um papel fundamental para o acesso ao contrabando, especialmente quando existem zonas cinzentas e regras pouco claras exploradas por atividades criminosas.

“Estamos preocupados com as projeções de um aumento de 9,7% nas atividades ilícitas na América Latina e no Caribe. Com este estudo pretendemos contribuir para uma melhor compreensão do problema do comércio ilícito, especificamente de bebidas alcoólicas, devido ao impacto negativo que tem demonstrado”, afirmou Lilian Krohn, Consultora Internacional da Euromonitor.

Historicamente, estudos mostram que as vendas ilícitas impactam negativamente a sociedade, governos e negócios. Esses dados são importantes para a implementação efetiva de mecanismos de colaboração entre este setor, governos e comunidades, a fim de combater os efeitos danosos à saúde pública, as perdas fiscais e a disseminação de quadrilhas criminosas, entre outros. O estudo destaca as melhores práticas que provaram ser bem-sucedidas:

  • Conscientizar o consumidor para a tomada de decisões informadas em momentos de consumo. Os consumidores devem ser informados sobre riscos para a saúde associados ao consumo de produtos ilegítimos, bem como das estratégias adotadas pelos fornecedores ilegais de bebidas alcoólicas para enganá-los, aumentando a conscientização sobre os riscos em diferentes momentos de consumo e, portanto, a tomada de decisões melhores.
  • Acordos de colaboração entre os diferentes agentes. O combate ao mercado ilegal exige um trabalho colaborativo permanente entre as diferentes partes para avaliar como ele se desenvolve e se as ações, tanto de comunicação quanto de políticas públicas, estão gerando resultados ou não.
  • Novos canais de venda como o e-commerce representam uma oportunidade e um desafio, por isso os mecanismos de controle que impeçam a disseminação do mercado ilícito devem ser fortalecidos. A chave para combater a atividade ilícita é a cooperação entre produtores, comerciantes, plataformas digitais e o governo. É necessário estabelecer fiscalizações para garantir que os produtos comercializados sejam legais, que tenham sido pagos os impostos correspondentes e que tenham passado nos controles sanitários que o país estabelece. O estudo mostrou que os locais que vendem produtos ilícitos têm aumentado, gerando concorrência desleal para todos os canais formais de venda (online e offline).
  • A lei e sua aplicação devem andar de mãos dadas. A aplicação da lei deve combinar uma estrutura jurídica sólida com ferramentas de coordenação que permitam a vigilância, que reduza efetivamente as atividades criminosas, sem penalizar os indivíduos que estejam em conformidade com a lei.
  • Capacitação permanente. Os servidores públicos devem ter acesso às ferramentas necessárias para identificar de forma efetiva e constante as novas estratégias criminosas.

O modelo de estudo foi baseado em fatores predeterminados, incluindo dados macroeconômicos projetados para 2020, como PIB, renda e dinâmica populacional, em conjunto com informações históricas de estudos relacionados ao álcool ilícito. A isso foi adicionada uma análise do impacto gerado por medidas específicas em torno da COVID-19, como rupturas na cadeia de abastecimento, restrições e comportamento do consumidor. A base de projeção presume uma onda maior de COVID-19 entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2020, seguida por ondas mais suaves e mais controladas na segunda metade do ano.

 

Sobre a Euromonitor International

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