“Reduzir o consumo nocivo de álcool passa pela compreensão da própria cultura”

Dra. Marjana Martinic, especialista em políticas públicas globais de saúde e PhD. em Neurociência pela Universidade de Northwestern, foi uma das painelistas do seminário O consumo de álcool no Brasil: um peso e uma medida para todos, realizado pelo jornal Valor Econômico, com o Núcleo pela Responsabilidade no Comércio e Consumo de Bebidas Alcoólicas no Brasil, e apoio do IBRAC (Instituto Brasileiro da Cachaça), no dia 27 de janeiro, em São Paulo.

Martinic apresentou o tema “Cenário global de políticas públicas para a redução do consumo nocivo de bebida alcoólica” e, posteriormente, debateu o assunto com Helio Mattar, fundador e presidente do Instituto Akatu, organização não governamental voltada para a mobilização social em favor do consumo consciente.
Segundo Martinic, a redução do consumo nocivo de álcool é um ponto forte da agenda global, especialmente pelo fato de o álcool ser um dos fatores de risco associados às doenças não comunicáveis como câncer, diabetes, doenças do coração, entre outras. Órgãos internacionais como as Nações Unidas (ONU) vem atuando em iniciativas globais, fundamentadas na adoção de medidas para a população como a restrição do álcool aos menores de idade, autorregulamentação da publicidade, restrições para beber e dirigir e programas de informação e conscientização dos consumidores.

Porém, a especialista adverte que não há “uma política pública para redução do consumo nocivo de álcool que sirva a todos os países e culturas, pois os padrões de consumo variam de nação para nação”. Em função disso, medidas mais amplas e modelos teóricos podem não trazer os resultados esperados. Martinic defende o entendimento dos hábitos de consumo de álcool de cada país para a tomada de ações mais efetivas. “A prática sustentável combina regulações governamentais a políticas customizadas de acordo com a realidade local, compartilhando responsabilidades entre todos os setores; é preciso uma agenda pública balanceada, não punitiva, com leis realistas que não coíbam a liberdade de escolha do consumidor e não tragam resultados indesejáveis, como o avanço do comércio ilegal”, destaca a doutora.

Para que as pessoas decidam com responsabilidade, elas precisam estar bem informadas sobre os aspectos que envolvem o consumo de álcool. E isso passa pela adoção do conceito de “dose padrão”, que é a quantidade absoluta de álcool, em gramas, presente em cada bebida. “O primeiro passo é o consumidor entender o que está bebendo, quanto álcool está indo pro seu organismo, e como isso afeta a sua saúde e os seus relacionamentos”, acrescenta a PhD.

Helio Mattar, do Instituto Akatu, participou do painel e propôs a mobilização de todos para gerar uma mudança real no consumo de álcool no Brasil. “Precisamos instaurar um diálogo de transição entre todos os stakeholders para chegarmos a um consumo consciente de bebidas alcoólicas no país, por meio de um portfólio de medidas estruturadas, sistemáticas e efetivas contra o consumo nocivo de álcool e que estabeleça a dose padrão como carro-chefe deste processo”, avalia o presidente do Akatu.