A diretora de serviços comunitários da Fundación de Investigaciones Sociales AC (Fundação de Investigações Sociais) – FISAC – do México, Jessica Paredes Durán, tem 15 anos de experiência no trabalho de prevenção ao consumo nocivo de bebidas alcoólicas. Ela veio ao Brasil apresentar o estudo de caso sobre a implementação do conceito de dose padrão no México, durante o seminário O consumo de álcool no Brasil: um peso e uma medida para todos, realizado pelo o jornal Valor Econômico, com o Núcleo pela Responsabilidade no Comércio e Consumo de Bebidas Alcoólicas no Brasil e apoio institucional do Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC), no dia 27 de janeiro de 2020, em São Paulo.
Para a especialista, a dose padrão de álcool – quantidade de etanol presente em qualquer tipo de bebida, medida em gramas – é um instrumento eficaz para a prevenção do consumo nocivo de bebidas alcoólicas. No México, considera-se uso nocivo do álcool:
- O consumo por menores de idade;
- O consumo excessivo de álcool – superior a 3 doses diárias para mulheres e 4 para homens, sendo cada dose padrão correspondente a 13 gramas de álcool puro;
- O “consumo explosivo”, ou seja, beber as doses rápido demais;
- Combinar álcool e direção de veículos, incluindo bicicletas e patinetes;
- Misturar bebidas com remédios; o consumo de álcool por pessoas com enfermidades crônicas, como câncer e diabetes; e
- O consumo de bebidas ilícitas, que nutrem o mercado informal e são acessíveis às pessoas mais vulneráveis.
Jessica Durán é uma das autoras do livro “Dose Padrão: uma ferramenta para o combate ao consumo nocivo de álcool”, traduzido e lançado no Brasil em 2020 pelo Instituto Envolverde.
A obra é uma pesquisa inédita sobre o conceito de dose padrão, na qual resgata registros históricos de mensuração do consumo de álcool, aborda as diferenças culturais e regulatórias entre os países em relação às bebidas alcoólicas e, sobretudo, oferece métricas práticas para que o consumidor entenda melhor a sua bebida – como ela é servida, a quantidade absoluta de álcool presente e os reflexos do consumo no organismo e na saúde.
“A dose padrão dá ao consumidor a possibilidade de medir a sua ingestão de álcool, em número de doses, atuando em favor da moderação”, acrescenta Durán. Segundo ela, a dose padrão integra a lei mexicana, faz parte dos programas de prevenção e o seu conceito já está amplamente disseminado no país, porém ainda falta ser incorporado pelo consumidor. “É um tema que envolve todos os setores, da indústria ao barman, e é necessário um trabalho em equipe, de longo prazo, para que essa conscientização chegue na ponta e produza a mudança cultural dos hábitos das pessoas”, afirma.
Durán complementa que os países da América Latina precisam se unir em uma frente ampla, produzindo pesquisas que reflitam as culturas de consumo de álcool da região. “Os principais estudos geralmente vêm da Europa, Estados Unidos e Canadá, ou seja, de países com hábitos de consumo muito diferentes dos nossos“, analisa. Segundo a especialista, a dose padrão é relevante nesse sentido, pois oferece uma métrica de comparação única para os estudos globais relacionados ao consumo de álcool.
Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha estabelecido no passado a dose padrão de 10 a 12 gramas de álcool como medida pretensamente “universal”, é importante conscientização de cada indivíduo sobre seus próprios limites, uma vez que cada organismo reage diferentemente à ingestão de bebidas alcoólicas, em função de uma série de fatores como idade, gênero, peso, altura, perfil social e outros. A dose padrão é um balizador útil e importante, mas é também preciso respeitar o corpo e como ele reage ao álcool.